Moeda no Asfalto

Era mais um dia em que Honório se preparava para ir à escola

o dia raiou quente, como de costume nos verões baianos nascentes

a manhã instaurara  nele o desejo da descoberta, a curiosidade

e naquela tenra idade, Honório se dividia entre aprender e se apaixonar

Então, munido da sua pasta preta, que mal cabiam os livros, lá foi ele ...

naquela época, à caminho da escola, havia uma caixa de som em cada poste

as rádios tocavam Bee Begges, Elton Jonh, Beto Guedes, Gloria Gaynor...

e ele caminhava emocionado, ensaiando palavras de amor para dizer à Cristina

A inspiração nascia dos olhos e dos cabelos pretos de Cristina, boas aquelas rimas

os seus cadernos eram inundados de rabiscos românticos, de poeminhas e de prantos

tudo corria bem, e ele estava encantado com os desafios do ginásio, e com as belas meninas

mas que pena, findou a manhã, tocou o sinal e o menino tinha que voltar para casa, tinha uns afazeres...

No caminho, de volta para casa, a sorte lhe sorriu, encontrara um cruzeiro em moeda, perdido no asfalto frio.. 

não havia ninguém por perto, então ele pensou consigo, ah! foi um presente da sorte mesmo...

já em casa, eufórico com a quela moeda nas mãos, contou à sua mãe sobre aquele achado, disse a ela: "mãe, com essa moeda posso comprar muitos carrinhos de linha e empinar muitas arraias ...

Animado com aquela moeda, ele guardou os livros, troquou as roupas e os sapatos... tudo num passe de mágina...

mas quando estava saindo de casa, o seu pai,  da cadeira de balanço, perguntou: - Honório, essa moeda é sua?

- Como a moeda não é sua, vista a farda da escola novamente, calce o Kichute e carregue a sua pasta de livros...

- volte no mesmo lugar onde você encontrou essa moeda, e a ponha lá, pois ela não lhe pertence! ... e aos prantos ele foi ...

Humberto de Campos

    Aprendiz Holístico